48 Aires Mateus

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Universidade de Arquitectura . Tournai


+ PÚBLICO

O projecto é a nova Universidade de Arquitectura de Tournai, na Bélgica. A cidade é uma das mais antigas da Bélgica e conta com inúmeros edifícios que são classificados como património mundial da Unesco.












O concurso foi realizado pela Universidade Católica de Louvain, que já tem um polo em Tournai. As novas instalações vão ocupar um quarteirão no centro histórico. Os edifícios existentes, juntamente com o novo edifício chegarão aos 7.000m², e vão suportar as actividades de cerca de 600 futuros arquitectos. O concurso internacional foi aberto a todos os arquitectos numa primeira fase, tendo concorrido mais de 20 equipas europeias. Cinco equipas foram selecionadas para uma segunda fase para que desenvolvessem as propostas. Entre essas equipas estavam ateliers de arquitectura oriundos da França e Bélgica, como Lacaton & Vassal, ou Robbrecht en Daem, ambos bastante premiados.
A decisão foi tomada após cada equipa ter feito uma apresentação final a uma comissão de oito júris, constituída por professores arquitectos e responsáveis da Universidade. O projecto será desenvolvido em cooperação com a empresa Belga de construção Tradeco, Potteau que iniciará a obra dentro de poucos meses.
Num quarteirão semiconstruído, um novo edifício será fundado, interrelacionando as diferentes funções dos edifícios contíguos. O desenho evoca a iconografia existente no património arquitectónico de Tournai. A sua geometria origina várias praças urbanas e produz um grande espaço interior que albergará todas as actividades académicas, bem como estabelece uma profunda colaboração com a comunidade.
É bem conhecida e ilustrada a importância de Tournai enquanto antologia de inúmeros registos arquitectónicos e patrimoniais ao longo dos tempos. A cidade, bem como a sua urbanidade, estiveram sujeitas a várias oscilações na sua importância. Entre os períodos de maior expansão e os de maior letargia, a cidade foi-se adaptando, mas conservando também as inscrições dessas diferentes condições. Existe uma monumentalidade indiscutível, com edifícios de extrema evidência iconográfica.

O novo edifício desenha-se a partir dos constrangimentos que precisa resolver, mas sobretudo da ambição de fundar um novo valor arquitetónico. O espaço público é eleito enquanto prioridade do desenho. A volumetria é decantada directamente dos edifícios existentes que lhe passam a ser contíguos. A nova construção não toca no construído senão em precisas passagens. É deixado sempre um interstício que deixa passar luz, mas sobretudo reforça o tempo entre construções diferentes. É um quase toque, que permite uma independência de infraestruturas, mas também de condições de tempos diferentes. Ao volume construído que se desenha a partir do espaço exterior, são retiradas formas arquetipais intuídas. Todo o “ar” que é retirado evoca espaços que tradicionalmente fazem parte do nosso património comum. São evocações não só das passagens que recorrentemente se encontram em Tournai nas ligações de espaços públicos, como da nossa própria ideia de abrigo ou de preparação de uma entrada.
Esse perímetro de construção circunscreve desse modo um interior disponível. Esse grande interior é pensado como um enorme vazio. É um volume de ar expectante, capaz de conter a vida que se sabe conter uma boa parte de imprevisibilidade numa universidade. Estabelece uma nave central que se pressente de todas as partes do quarteirão LOCI, do mesmo modo que o vazio da catedral de Tournai se pressagia em toda a sua envolvente. No interior deste espaço revêm-se os arquétipos retirados da fachada pelo interior. São elemento presente mesmo nos espaços comuns cobertos da nova construção. Este é o espaço de encontro e comunhão entre todos os fluxos de pessoas do quarteirão. É não só uma coluna vertebral de todo o quarteirão, como se transforma no centro de vida que faz com que tudo o resto comunique e possa viver em simbiose. Este é o espaço central que recebe a cidade e está disponível para ela. Pode servir de recinto de exposições, de encontro, ou apenas de passagem pelo interior do quarteirão.
Pretende-se que o novo quarteirão recuperado seja consagrado à vida urbana, e mais profundamente à troca cultural. Na maior praça é criado um pequeno bosque com árvores locais, que permita transformar esse espaço também numa zona vivida enquanto espaço exterior. As paredes do novo edifício buscarão uma compatibilidade com as superfícies adjacentes. Poder-se-á recorrer ao tijolo, que parece ser a palavra mais frequente no discurso das fachadas em Tournai. Desenha-se uma nova serena presença que evoca o património de Tournai, e que propõe um vínculo entre todo o quarteirão que nunca existiu.


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